sábado, 20 de outubro de 2007

SR. Dr,Sr. Engenheiro, sr. Arquitecto


No mundo, só em Portugal os diplomados pela universidade são tratados por doutor ou engenheiro. Em França Docteur significa médico, em mais parte nenhuma do mundo civilizado as pessoas são tratadas pelos títulos académicos.Este tratamento português é um atavismo cultural e um arcaísmo medieval relacionado com o analfabetismo da massa. Tem relação com o sistema arcaico de classes ele sucede aos títulos de nobreza ou do senhorialismo. Ser Sr. Dr. Ou Sr. Eng. é diferenciar uma casta. É um tipo de ascensão social fictícia, não económica porque não representa um status económico. É um tratamento pré moderno porque na modernidade são o saber e o estatuto económico que distinguem os indivíduos.O tratamento perpetua a ignorância de massa. Pressupõe o desejo de a massa não ascender aos saberes, segrega os que não são “credenciados” ou autorizados no saber, por um lado, e os “credenciados” por outro. Por isso é que Portugal – o único pais onde existem estes tratamentos - é o mais iletrado da Europa, o mais pobre, com mais desnivelamento social e, curiosamente onde há menos licenciados.
Ps. todo o comentário bem disposto e elevado é bem vindo.

Um comentário:

ANTONIO DELGADO disse...

Para o português parece ser indigno trabalhar com as mãos porque é sinónimo de gente chã ou sem qualificação. São muitas a frases do linguarejar popular que atestam essa ideia “ trabalhar é bom para o preto” , “trabalha que nem um galego”, “que nem um moiro”, é um “escravo do trabalho”, “ se trabalhar da saúde que trabalhem os doentes” a colecção destas vozes são muitas. A necessidade de limpeza de sangue que se manifesta na titulitis e é um aspecto bem característico da mentalidade portuguesa. Não há quase ninguém que não seja Sr. Dr., Sr. Presidente de qualquer coisa, Sr. Eng. Ou sr. arquitecto. Como se o título desse dignidade a alguém ou fizesse um bom profissional profissional ou alguém honrado. Veja-se o caso do presidente da câmara de Alcobaça um tal Sapinho que segundo os jornais nem os impostos declara em sete anos ao TC como é obrigado por lei. No entanto, além de mau presidente ainda foge à legalidade e infestou o concelho de Alcobaça, com placas a branquear as suas “virtudes” escrevendo sempre inaugurado pelo Dr. Sapinho..etc.
Mas a psicose nacional sobre títulos é de tal ordem que nos últimos dias tem gerado uma outra que é saber se José Sócrates é ou não é diplomado em engenharia. Certos jornalistas, jornais, televisões, blogs fazem eco deste delírio que para mim é um verdadeiro retrato do estado patológico de demência ancestral que afecta a mentalidade portuguesa. Para o cidadão português não lhe interessa questionar a corrupção existente em todos os sectores da vida política social e cultural da nossa sociedade, nem questionar se os portugueses vivem bem ou se são felizes. Interessa é o diploma de um político que eventualmente se terá formado numa universidade que governos de oposição ao partido socialista autorizou e nunca quiseram fiscalizar funcionamentos menos claros... É curioso este Povo (extracto do mue comentário na postagem anterior)